(Texto de Pedro Demo)
É recomendável dar ênfase à matemática, por várias razões. A primeira é que geralmente se deixa na penumbra quando se discute alfabetização/alfabetismo. "Contar" faz parte do rosário inicial (ler, escrever e contar), mas parece secundário, tanto assim que as alfabetizadoras reservam para a matemática espaço sempre menor, quando não expressam desgosto. A segunda razão refere-se à sua importância desde sempre para a constituição de habilidades de leitura do mundo, tornada cada vez mais intensa no decorrer dos tempos, com destaque para a linguagem científica e tecnológica (tecnociência) e para a informática. Assim, seja qual for o sentido atribuído à noção de "ler a realidade", a matemática é referência crucial. A terceira razão está no fato de que a aprendizagem da matemática tende a ser a mais problemática na escola, pelo menos nas séries mais avançadas. A quarta razão pode ser vista no fato de que, sendo o terror dos alunos, pode virar fator de exclusão social (Alves, 2002), à medida que não só empurra muitos alunos para áreas de estudo onde a matemática não seria relevante, selecionando-os negativamente, ou constitui-se barreira de contenção para a progressão escolar, como, sobretudo, atrapalha, veda, o acesso a linguagens centrais do mundo atual cada vez mais matematizado. Tomo a matemática como referência crucial do processo de alfabetização/alfabetismo, sendo sua importância nem maior, nem menor que a questão da leitura e escrita.
A aprendizagem da matemática precisa adequar-se aos reclamos substanciais da dinâmica da aprendizagem, implicando pesquisa e elaboração própria, feitura de textos e principalmente habilidade de interpretação autônoma. Esta posição afasta-se drasticamente da matemática dos macetes e dos vestibulares, valorizando a matemática como expressão fundamental do saber pensar (Demo, 1995a)20.
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